segunda-feira, 2 de abril de 2018

Vida feita por momentos: certeza da finitude e incerteza de quando ela virá

A vida sempre nos mostrando que é feita por momentos, não por fase. Não posso deixar de materializar por meio de palavras o que estou sentindo... Desde o meu aceite para desenvolver o pós-doutorado na Escola de Serviço Social da UFRJ (realização de um sonho) acreditei que viveria uma fase maravilhosa... Somar pós doutorado e a oportunidade de estar junto com meu companheiro por seis meses de fato é algo muito, muito, muito extraordinário para nós, eu, ele e, principalmente, Janjão. Até o dia 16/03/18, primeiro dia da licença, trabalhei feito louca para deixar as coisas na UEL mais ou menos em ordem. Esse “mais ou menos em ordem” diz respeito ao fato de que para sair em licença acabamos sobrecarregando colegas, especialmente aquelas pessoas que já estão sobrecarregadas (meu muito obrigada a colegas que de maneira direta estão fazendo com que essa licença seja realidade, Eliana, Lorena, Olegna, Dione e Ana Patrícia... essas que irão tocar “meus” projetos por seis meses. Além disso, a nova equipe do colegiado que componho, em nome da Melissa e Mabel agradeço a todas, pois tocarão esses seis meses sem minha “ajuda”). Deixar coisas acontecendo não foi fácil (e não está sendo)... Deixar projetos que foram minha motivação em 2017 por conta da alegria de compartilhar com estudantes tão lind@s, me exigiu um bom exercício de desapego. Além disso agradeço profundamente minha família que se dispõe a cuidar do Janjão com todo amor e carinho nos momentos que preciso... Meus pais, minhas irmãs, meus sogros, gratidão por todo amor que tem pelo meu filho! No mais, tudo correndo bem, maravilhosamente bem... Confesso que estava com medo da violência do Rio, pois a morte e significado da morte de Marielle foi muito forte para mim. Mas abri o pós-doutorado com chave de ouro no Seminário “Sistema de Justiça e Saúde Mental: que relação é essa?”, no qual pude ter a certeza de que o grupo Transversões da UFRJ, que agora componho, é um grupo sério e gerador de processos. Depois tive a sorte de participar do evento de pesquisadores da pós-graduação da UFRJ, que mesmo sendo um evento de pesquisadores, foi um evento que propôs muito mais que o lattes pede... Um evento gratuito com o tema: “Lutas e Resistências em tempo de conservadorismo”, com conferencistas de várias partes do mundo que discutiram Brasil e América Latina... Pude ver Zé Paulo defendendo costas raciais e falando que o negro precisa conhecer sua história (logo, as disciplinas que discutem historia da África e afro-brasileira, são essenciais). Pude também contemplar Marilda Iamamoto falando de pesquisas que ainda desenvolve, sendo homenageada, pois depois de aposentar-se na UFRJ, agora se aposenta na UERJ. Pude dançar jongo ao lado de Marilda Iamamoto e Yolanda Guerra. Essa experiência de estar na UFRJ me mostra que as “estrelas” do serviço social são docentes universitárias, que se deparam com desafios cotidianos como aqueles que nós, docentes da UEL nos deparamos... São pessoas trabalhadoras, envolvidas e dedicadas na história do Serviço Social, história essa que também componho, que compomos... Quebrar preconceitos é o desafio. Prenconcitos também que se referem a minha auto-estima, a dúvidas no que tenho para oferecer.... Neste ponto vivenciei experiência extraordinária, fazendo uma fala sobre minhas pesquisas para estudantes de uma sala da graduação da UFRJ, que se interessaram pelo debate, fizeram perguntas, foi muito legal! Também já tenho três vivências marcadas para abril: uma banca de doutorado, dividir uma fala com o Zarconne (que é um cara que leio!) em disciplina especial sobre Direitos Humanos e compartilhar uma mesa sobre pesquisa acerca da Política de Drogas Serviço Social. Tudo isso graças a Rita Cavalcante! No mais, estou convicta que tive muita sorte (sorte mesmo!) de ter sido aceita por Rita e Eduardo para o desenvolvimento do pós doutorado... São pessoas humanas, lindas, que fazem com que o afeto componha a vida acadêmica. Sei que irei aprender muito com el@s! Enfim, tudo caminha bem, muito, bem, então penso: estou em uma fase boa! Aí ontem a energia que move o mundo mando um recado: “a vida é feita por momentos, não por fases”... Vivi uma situação daquelas que por sorte não aparecem nos jornais, pois se aparecessem seria para mostrar tragédia total. É o 8 ou 80 rodeando nosso cotidiano. Então vai a história detalhada... Quando agendei minha ida para o Rio, já sabia que precisaria de meus pais para cuidarem do Janjão aqui em Londrina ou lá em Bauru. Não deu para virem em Londrina, então fui para Bauru... Janjão ficou lá enquanto estive no Rio. No decorrer dos dias soube que a creche esperaria o pequeno voltar para tirar uma foto com a decoração de Pascoa (foto que irá compor o álbum de formatura da pré-escola!)... Então mudei minha passagem de retorno, que estava agendada para dia 02/04 às 01h30 da madruga, para dia 01/04 às 15h30... Ao chegar na rodoviária, soube que houve uma confusão e a pessoa que mudou a passagem me enviou que estaria certo para as 15h30, mas na verdade modificou para as 14h... Cheguei na rodoviária as 15h e o “rolo” se instalou (curiosamente não briguei, como costumo fazer!), a única saída foi um bus para as 18h30... Topei, voltei para a casa dos meus pais bem frustrada, mas ainda satisfeita por terem conseguido passagem para domingo mesmo... Voltei para rodoviária, e com atraso encostaram dois ônibus para Londrina, um as 18h30 e outro as 18h31... descobri que o meu era segundo. Sem problemas, eu e Janjão entramos no ônibus felizes da vida, pois depois de duas semanas, voltar para casa é tudo de lindo! Mas o universo tinha um recado para mim e para quem estava no ônibus... Sofremos um pequeno acidente, que poderia ter sido muito grande. Era 20h, chegávamos em Ourinhos/SP, ou seja, há uns 120 km de Bauru, chovia muito... Senti que o motorista jogou para esquerda. Alguns segundos depois ouvimos o barulho da batida. Levantei e percebi que ele estava parado na lado esquerdo da pista (que era dupla)... No mesmo segundo, passou um caminhão gigante pela direita, daqueles com dois carros, que carrega óleo ou substâncias químicas (carga perigosa)... O bicho passou correndo e parece que jogou para o acostamento. Na hora pensei que o motorista havia jogado à esquerda para fugir do bichão, que talvez estivesse desembestado, atropelando todo mundo. Depois descobri que foi de fato uma batida. Ele foi ultrapassar um carro. A motorista do “titubiou” por conta da chuva e acabou perdendo o controle, atingindo o ônibus. No final, não foi nada grave, pois todos seguiram até o posto policial. Mas o caminhão não saia da minha mente. Se o ônibus tivesse parado na transversal, certamente eu não estaria contando essa história hoje... Seria sim notícia de telejornais nacionais. Vivi aquele instante que a gente vê a vida por um triz e tem a convicção de que nada está totalmente posto ou definido. Ver o Janjão dormindo ao meu lado sem saber de nada me dava uma sensação de alegria e também de medo. Medo do que vida me reserva. No final das contas, nossa viagem atrasou duas horas e meia, pois ficamos duas horas no posto da policia rodoviária para fazer o boletim, etc... Eu fui a única testemunha no boletim de ocorrência, pois somente eu verbalizei a questão do caminhão passando pela direita. Questão essa que foi bem favorável para o motorista, pois a moça do carro disse que foi ele quem invadiu a pista da direita. Quem estava certo ou errado? Não sei... Só sei que o ocorrido foi de fato um acidente. Um acidente que poderia ter sido manchado de sangue. O trecho do local do acidente até o posto da Polícia Ferroviária foi muito difícil. Olhava para aquela vidinha do meu lado e de outras três crianças no ônibus e me dava vontade de dizer: pare essa porra! Vamos parar e esperar a chuva parar, o sol nascer e a segurança transbordar. Já passei umas três ou quatro vezes pela sensação da morte bem perto. Situações que trazem a certeza da finitude e incerteza do dia em que ela pode acontecer. Enfim, tudo deu certo no final, o que fica são experiências e reflexões... E, depois de três horas de atraso, o ônibus enfim chegou em Londrina.. E eu: “- Janjão, chegamos em Londrina!” Ele: “- que legal mamãe, foi rapidinho!”. Isso é vida! Vida vivida dentro da dialética de suas contradições... Hoje estou muito assustada com o risco eminente da finitude a grata por poder contar essa história. Não sei se alguém vai ler, mas tinha que colocar para fora! Obrigada Janjão por renovar minha vida, obrigada Nego, por ter me dado essa renovação! E, findo com a potente frase de Guimarães Rosa em Grande Sertões Veredas: “viver é um risco”!

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