segunda-feira, 13 de março de 2017

Simulacro da comunicação

Sentei no corredor e um bom ângulo de visão permitia que eu visse todos os cliques daquele jovem de uns 18 anos. Um jovem bonito, com uma camiseta bem branquinha, calça caqui e tênis novinho de marca. Ele usava os polegares com uma velocidade impressionante. As vezes, voracidade. Pra cima e pra baixo, sinais de jóia, kkk´s, sorrizinhos. Via vídeos de outros jovens como ele, ouvindo-os com um fone. Ria sozinho. Eu dormia, acordava e lá estava ele freneticamente com o aparelhinho nas mãos. Em uma de minhas olhadelas levei um susto, pois estava vendo um videozinho pornô caseiro. Fiquei meio sem graça, disfarcei e parei de olhar. Dormi mais um pouquinho. Foram onze horas de viagem. E lá estava ele, comunicando-se, comunicando-se, comunicando-se. Mas na real, na real, bem na real, nenhum sorriso para o lado, nenhum boa tarde, nenhum boa noite, nenhum por favor, nenhum dá licença, nenhum obrigado, nenhum “que calor”. Só silêncio e indiferença. E o simulacro da comunicação estava ali em suas mãos. E ele acreditava que se comunicava.

quarta-feira, 1 de março de 2017

velando o amor no carnaval

Nem é quarta-feira de cinzas, mesmo assim estou velando o nosso amor. O amor que estava velho, a deriva em um barco a vela. Os sopros, cada um para seu lado. O velho amor que não era mais nosso, mas sim de cada um à sua maneira. O momento que revela que o amor estava velho, cansado, distante, perdido, que mesmo a vela do barco não poderia conduzir. Com ventos opostos impossível resistir sem afundar. Velar o amor no carnaval é assumir que resta pouca alegria, pouca cor, pouca risada, pouco prazer, pouca carne, pouca alma. Ventos e caminhos opostos, mas que terão que se convergir na estrada rumo ao filho, que precisa de caminho. Sim, velo o nosso amor que estava velho. Mas olho para frente, para a estrada, para o mar, para o barco a deriva e penso que os ventos podem se somar quando cada um for feliz e puder transportar ventos fortes e livres para que o filho possa navegar e caminhar a passos firmes. Andrea Rocha 28/02/2017, dia de carnaval mais triste de minha vida.