terça-feira, 5 de março de 2013

Nascimento do João Pedro: nosso rebento rebentou!

Os meses da gestação passaram tranquilamente, com pouquíssimas intercorrências, quase nenhuma, pra dizer a verdade... Entramos na 37ª. semana de gestação e a ansiedade começou pegar. Escolher o parto normal traz consigo inúmeros elementos objetivos e subjetivos. O normal não é visto com normalidade... Falar para as pessoas que já estava com 39 semanas esperando o parto normal parecia coisa de outro mundo. A pressão estava grande. Eu mesma me pressionava e pedia todos os dias “nasce João Pedro! Nós te amamos e queremos você aqui”... Com isso, acho que levei um pouco de pressão para o João Pedro também... No dia 19/02/13 acordei mais ansiosa que nunca, estava com 39 semanas e 5 dias... Na parte da manhã o Zé Francisco me convidou para ir ao clube relaxar na piscina. Não estava muito calor, mesmo assim arranquei forças do nada e fui com ele... Foi bom, relaxei por lá, caminhei na agua, me alonguei... A tarde dei uma choradinha. Entrei em um debate no grupo do GESTA no facebook e a mulherada me deu bastante força e falou dos três “hots”: sexo quente, banho quente, comida quente. Sobre o sexo, fisicamente estava impossível... banho quente, tomei no chuveiro. E, naquela noite fiz uma torta de sardinha cheia de pimenta. Depois de comer a torta, senti umas dorzinhas que pareciam cólica intestinal, pensava que fossem contrações de BH... Por volta das 21 horas continuei conversando com as meninas do GESTA no facebook e a Marília propôs de fazermos meu “chá de bênçãos” na quarta-feira. Eu disse, amanhã não posso, pois estarei sem marido e sem automóvel... Ah, um detalhe importante é que o Zé Francisco iria para Maringá na parte da tarde, mas de repente, intuitivamente ele disse que iria dormir aqui comigo e apenas na madrugada viajaria para Maringá... Voltando a conversa com as meninas, eu postei algo do tipo: “vamos ver, pois estou sentindo umas dorzinhas nunca antes sentidas”... Desliguei no notebook e a bolsa rompeu, naquele instante, naquele exato momento. A bolsa explodiu e eu explodi de alegria. O Zé Francisco ficou todo preocupado, mas manteve a calma, me acalmando...Eu saltitante fui ao banheiro enquanto ele ligada para o Galletto. Mas, infelizmente, quando cheguei no banheiro vi no chão um sinal negativo: o liquido amniótico estava amarelo, meio verde limão... E como havia participado dos grupos, estudado, lido muito sobre parto e suas particularidades, percebi que não era um bom sinal... Mesmo assim estava feliz, pegamos as bolsas, a bola gigante que comprei para fazer exercícios e ajudar no trabalho de parto. Fomos para o Hospital Araucária, chegamos lá por volta das 22h... A enfermeira me examinou, viu que estava com 3 para 4 cm de dilatação, notícia boa! Senti-me maravilhada, emocionada... Mas logo veio algo preocupante, pois deu alteração no cardiotoco. O bebê estava com os batimentos normais, mas sem reação. Isso me deixou totalmente vulnerável e preocupada, logo, minha pressão subiu e ficou 15 x 10... aí foi a gota d’agua. A enfermeira ligou para o médico e ele mandou me internar. Ela foi muito simpática e considerou meu desejo de ter o parto normal no leito, deixando-me em um quarto sozinha (que meu plano não cobria), apenas para dar a luz se tudo desse certo, depois eu mudaria para o quarto duplo. Mas, assim que o médico chegou, me examinou, viu o liquido amniótico e disse: “isso é verde Andréa... está com mecônio”. Em seguida falou: “tenho duas notícias, uma boa e uma ruim. A boa é que seu filho vai nascer hoje, a ruim é que será cesárea”. A notícia foi um golpe forte, eu questionei se não haveria outra saída e ele explicou que juntando os três elementos (mecônio + cardiotoco alterado + hipertensão), o bebê poderia entrar em sofrimento e faltar oxigenação. Então eu e o meu companheiro não questionamos mais nada. Senti raiva, tristeza, frustração, medo. Dentre todos esses sentimentos, o medo era o mais forte, mas não por mim, mas sim pelo João Pedro, medo dele ser prejudicado, sofrer. Então pensei que se tivesse que ser cesárea de emergência, que fosse logo. Quando eu vi estava na maca, sendo levada para o centro cirúrgico. Parecia que estava em um barco a deriva. Falei para o Galletto: “não vai tirar meu filho pelas pernas, como se fosse um frango” e ele disse que o bebê nasceria como se fosse um parto normal. Depois da anestesia, em 10 minutos meu filho nasceu, chorou e eu gritei “seja bem vindo João Pedro!”. Ele nasceu as 23h47 minutos. O Zé Francisco não se conteve e foi tentar pegar o filho no colo, disseram que ele não podia (só víamos vídeos de parto normal, que o pai pega o bebê, corta o cordão, etc...) .. Trouxeram aquele rostinho lindo para eu ver, encostaram no meu rosto, ele estava bem quentinho, lindo, lindo... Logo o levaram para os procedimentos. E o pai foi junto. Parece que na cesárea o pai se torna o maior protagonista. É o pai que acompanha tudo, que vai junto, que assiste o primeiro banho, que cuida, que protege. Ainda bem que meu companheiro, meu amor, o pai do meu filho estava lá, protagonizando e dando seus primeiros passos como pai. Por outro lado, eu me senti um pacote. Anestesiada, ansiosa. Mas em nenhum momento me senti violentada ou desrespeitada... Em uma hora estava com meu filho no colo, amamentando-o, emoção igual não existe. Vale colocar aqui neste relato que eu e o Zé Francisco havíamos acordado que confiaríamos no Galletto e, se por ventura, acontecesse do médico dizer que teria que ser cesárea, iríamos fazer sem muito estresse. Foi justamente o que aconteceu. Não sei se as coisas poderiam ter sido diferentes. Não sei se meu filho poderia ter nascido de parto normal. O que sei é que aceitamos a indicação médica por amor a ele. Para mim, o parto normal seria o “ponto final” da gestação da forma que idealizei. Para o João Pedro, o parto (independente se normal ou cesárea) seria as “reticências” de uma vida longa que estava por vir. Escolhemos as reticências, os três pontinhos que exprimem continuidade, dialética, movimento. Cesárea não é parto? Tecnicamente não é, mas a cesárea foi a forma que meu filho veio ao mundo, foi o “parto” dele, foi de onde ele partiu! É certo que carregarei para sempre um sentimento de frustração. A bola gigante ficou no carro, não foi usada. As dores dos pontos foram como dores na alma. Outra coisa que me deixou bem triste foi perceber que as pessoas pró-cesárea comprovaram suas teses de que eu não conseguiria ter um parto normal. Todavia também sei que essas pessoas não fazem isso por mal, mas sim por ignorância (no sentido estrito da palavra). E, o que vale realmente a pena, o que verdadeiramente transborda é a felicidade de que nosso rebento rebentou feliz! Ele nasceu quando quis, quando estava pronto... Nasceu bem, é uma criança linda, que foi a atração do dia naquele hospital, por conta dos seus 4.190 gramas e 52 cm... Ele nasceu sorrindo, pois nasceu amado. É amado. Agora estou eu aqui aprendendo a ser mãe... Aprendendo a lidar com as delicias e angustias que acompanham as mudanças revolucionárias que um filho traz, afinal de contas, o rebento rebentou!!!