sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Angustias e alegrias da espera... (parte 2 - espera do nascimento)

Depois do resultado positivo a angustia tomou outro lugar: o inicio da gravidez. Medo de aborto espontâneo, cuidados com a alimentação. Enjôo, azia, sono... Cansaço. Quanto cansaço. Nunca imaginei que seria assim... E, neste contexto uma meta foi estabelecida: a conclusão do doutorado ainda em 2012. No começo foi complicado, pois a dedicação que a tese exigia não combinava com os sintomas do primeiro trimestre da gravidez... E isso fazia a angustia apertar. Mas logo pude viver uma grande alegria: primeiro ultrassom, que vi a vida pulsando, cintilante, bela, com um coração tocando um forte samba. Fiquei extasiada... A emoção foi só minha, pois acabei não levando o Zé Francisco, não pensei que seria tão lindo.... Até que fizemos a segunda ultrassom que, a meu ver, é a mais emocionante de todas, pois contemplamos nosso filhinho nadando na água, formadinho dando cambalhotas e no meio das perninhas vimos o pênis do menino que viria (virá) para separar nossas vidas em antes e depois dele, nossa vida se divide em AJP – DJP (“Antes do João Pedro” – “Depois do João Pedro”). Neste período nossa vida como casal foi se acertando e os problemas que vivíamos foram sendo superados. Ele foi contratado como professor colaborador da UEM. Eu em licença da UEL, totalmente dedicada a tese. A angustia do segundo trimestre se referia muito mais a finalização do doutorado, que a gravidez propriamente dita. A conclusão da tese não foi fácil, pois um filho, antes mesmo de nascer, muda o nosso foco, muda o nosso olhar. E o estudo sobre adolescentes explorados como mulas do tráfico de drogas na fronteira Brasil – Paraguai tornou-se algo demasiadamente denso. Mesmo assim, aos trancos e barrancos consegui terminar a tese, depositei em tempo hábil para defesa que aconteceu no dia 17/12/12. Não foi a defesa que sonhava, porém, aquela altura do campeonato, estava muito mais querendo ser mãe que doutora. Hoje sou doutora, contando os dias e minutos para que a maternidade se materialize com um choro. Já sou mãe desde o resultado positivo, mas o desejo de ter o João Pedro no colo tem se intensificado cada dia mais. Não sei porque cargas d’agua eu havia colocado na cabeça que ele nasceria de 37 semanas. Por isso, a 37ª. semana foi um marco e nada do nosso menino vir ao mundo. A 38ª semana passou. As dores no corpo aumentam, a dificuldade de locomoção, a azia, o peso (são 18 quilos a mais), tudo isso somando a ansiedade é a pura materialização da angustia. Estamos na 39ª semana e nada. Até o dia de hoje, nada de dilatação, mas, segundo o médico, o colo do útero já está preparado. Porém surgiu uma novidade no percurso: “polidramnia discreta”, ou seja, um pouco mais de liquido amniótico do que o normal (acho que 200 ml). E isso tem tirado meu sono, pois em um mundo com excesso de informações, uma grávida só pode enlouquecer buscando explicações sobre algo que poderia passar despercebido. Mas, o que mais me preocupa mesmo é a fala do médico: “deu um pouco de liquido a mais, o único problema é que se a bolsa romper de repente, a pressão da água pode levar o cordão umbilical junto. Mas é só me ligar, quando romper me avisar imediatamente”. Fui de novo dedicar horas de minha vida para entender o que seria isso, e vi que há uma chance em mil de acontecer um prolapso de cordão, porém, se acontecer pode trazer sequelas graves para o nosso filhote. E agora, a torcida para que a bolsa rompesse a qualquer momento tornou-se medo. O medo de que alguma coisa dê errado é grande. A esperança e a fé de que nada dará errado também é grande. Há um misto de sensações. As vezes choro e penso em optar por uma cesárea por medo do pior acontecer, outras vezes me sinto confiante em continuar esperando o parto normal, quem sabe, natural. Como falei acima, as vezes o excesso de informações pode enlouquecer, mas também pode prevenir. E estou aqui, pensando no que decidiremos. Mantemos nossos planos ou mudamos a rota? Essa angustia invade a alma, mas a alegria de saber que de uma forma ou outra nosso filhote estará em breve conosco ainda é maior. Mesmo assim, acho importante ter o direito de me sentir ansiosa, cansada, angustiada... No mundo dos “pecados”, parece pecado dizer: “o final da gravidez é trash”... ou dizer: “estou com medo de alguma coisa dar errada”, pois pensar assim é pensar negativo, é atrair coisas negativas...Somos cobrados por tudo e por todos. Quero ter a liberdade de falar que a espera da chegada de um bebê é um evento repleto de alegrias e de angustias. Essa é a verdade... a verdade não é a gravidez idealizada nos filmes com final feliz. A realidade é bem mais complexa, o que não tira a beleza e a alegria profunda do momento... Por isso, falo com o João Pedro: “filho querido, decida você... Acabe com a angustia boba da sua mãe. Venha da melhor maneira, venha sem sofrimento, venha sorrindo. Sua mãe e seu pai estão preparados para sua chegada. Se quiser vir hoje, venha. Se quiser vir amanhã, que seja. Só não demore muito, pois nosso amor é tão grande que chega a apertar. E é você que nos ensinará a ser mãe e pai. É você... Só você...”. Te amamos João Pedro Rocha dos Santos!!! PS: o próximo relato sera do parto!!!

Angustias e alegrias da espera... (parte 1 - espera da gravidez)

Quero falar um pouco da espera. De uma espera que revoluciona para sempre a vida humana: a espera de um filho. Essa espera vem repleta de angustias e alegrias, antes mesmo da gravidez. Relatarei sobre a espera do meu ponto de vista, de minha vivência, de minhas sensações. Antes mesmo do sinal de “positivo”, a espera já era angustiante... Muito planejamento, ovulação, posição, horário, alimentação, lua. E, depois de alguns dias, o sinal que sempre me fez “mulher” chegava: a menstruação. E a tristeza angustiante vinha acompanhada da esperança. Quando decidimos engravidar estávamos morando fora do Brasil, eu em Madrid e Zé Francisco em Lisboa. A ponte área Espanha – Portugal foi constante. E os encontros eram organizados para os dias da ovulação... A primeira tentativa foi em um Hostel em Amsterdam, tudo muito romântico... Mas, logo depois veio a primeira frustração, seguida de outras. Quando voltei para o Brasil, em janeiro de 2012, fui correndo em um médico para verificar se havia algum problema: nada! Em fevereiro fiz um ultrassom justamente no dia da ovulação, vi o óvulo lá e o médico disse: ele esta aí, se pegar te vejo em um mês. Não “pegou”, mas o que pegou foi a tristeza e o desânimo, já eram 5 meses de tentativa. Depois disso, começamos a desanimar, mas, como mulher disposta a ter um filho, permaneci atenta as ovulações... Até que observei que a ovulação de maio caia justamente na virada de lua crescente para lua cheia. Namoramos e neste mesmo dia viajei 12 horas de busão para Franca, para ter orientação do doutorado. Fiz tudo que não fazia nas outras tentativas, ou seja, me movimentei, comi mal, sei-lá, tudo que eu pensava que poderia prejudicar o processo de fecundação/nidação... Até que no dia 10/06, a menstruação não veio. No dia 11/06, fiz um jantar romântico para comemorarmos do dia dos namorados antecipado, pois no dia seguinte o Zé Francisco viajaria para São Paulo para também ter orientações do doutorado. Fiz carne seca na moranga. Enfeitei a mesa com velas. Coloquei músicas românticas ao fundo e tomamos nosso pileque com bons vinhos. No outro dia de manhã ele viajou. Fui até o aeroporto levá-lo, já angustiada com a possibilidade da gravidez e com o medo da frustração. Ao chegar em casa comecei aplicar tecidos em uma cômoda que deixamos na sala, fiz artesanato, enfeitei o móvel com tecido azul de florzinhas. Fiz os assentos da cadeira com o mesmo tecido. Mas o pensamento na possibilidade da gravidez me invadia a mente e a alma. Então fucei na internet sobre testes caseiros... Fiz todos e todos deram positivo, mas ainda estava sem coragem para fazer o teste de farmácia e constatar mais um “não”. No dia seguinte fui na aula de Yôga, ao chegar na aula a primeira coisa que a professora/amiga Nara falou foi: estou grávida. Entendi como um sinal e disse para ela: eu desconfio que também estou. Ela me estimulou a fazer exame de farmácia. Fiz, deu uma lista escura e uma clara. Desanimei, mas a Nara disse por telefone: é positivo. Eu disse, acho que não. E claro que ela me convenceu a fazer o exame de sangue. Fiz e no mesmo dia tive a resposta: POSITIVO. Essa resposta veio em um dia interessante, dia 13/06, no dia de Santo Antonio. Foram exatamente 9 meses de espera para a gravidez e, por mais que pareça piegas, a gravidez aconteceu no momento certo. A angustia deu lugar para alegria. Não falei nada para o futuro papai por telefone. Porém, coincidentemente minha família viria para Londrina naquele fim de semana. Logo falei para minha mãe sobre a gravidez, e a vinda se transformou em uma comemoração... Na sexta-feira o Zé Francisco chegou, fui encontra-lo no aeroporto com um presente muito especial.... Para explicar isso terei que voltar um pouco na história e relatar um fato ocorrido no início do nosso relacionamento... A questão é que eu trouxe de uma viagem que fiz a Cuba em 2007 um charuto para o “futuro pai do meu filho”. E, quando ele veio em casa pela primeira vez, viu o charuto e eu disse: “esse é para o pai do meu filho”... Naquele momento ele não entendeu muito bem, mas expliquei: “o homem que for o pai do meu filho ganhará esse charuto”. Passado algum tempo, quando o relacionamento ainda não tinha “nome”, ele me ligou no meio da madrugada e disse “olha, se for pra fumar o charuto, estamos aí”, foi a declaração de amor mais linda que ouvi! Portanto, o presente que levei pra ele no aeroporto foi o charuto. Ele abriu, não entendeu muito e logo caiu a ficha. Ficou impactado com a notícia. Parecia feliz, porém preocupado, pois naquele período vivíamos algumas barras com relação a grana, etc... ele ainda estava a procura de trabalho no Paraná, enfim, a notícia foi uma bomba maravilhosamente bela. E o coitado chegou em casa, meus pais já estavam aqui... e ele, impactado. Talvez repleto de alegria e angustia. E o pileque do jantar do dia dos namorados foi o ultimo que pude desfrutar. E alegremente embarcamos na viajem da maternidade/paternidade...