quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Um desabafo sobre a racionalidade irracional do mundo acadêmico

Vamos lá… Até o final do mês de setembro deste ano eu pensava que iria concluir minha tese de doutorado enviar para meu orientador. Ele iria ler, fazer algumas indicações. Eu corrigiria e depois contrataria um profissional para a revisão gramatical e ortográfica. Então, mandaria alguém imprimir os dez exemplares e depositaria no programa no máximo no fim de outubro, início de novembro. Defenderia, a banca sugeriria novas alterações pontuais, eu corrigiria e entregaria a versão final na biblioteca. Lógica aparentemente normal, não? Não. No programa de pós que estudo não é assim. Descobri que teria que enviar à biblioteca e a equipe de lá teria o prazo de um mês para fazer as correções e que eu só poderia depositar o material depois da autorização da bibliotecária. Foi a partir desta descoberta que meus problemas se iniciaram, pois passei a me preocupar mais com formas e normas, que com conteúdo. A ditadura das normas invadiu a minha relação com a tese, transformando-a em uma relação desgastante, fazendo com que o “tesão” de tecer uma tese fosse para o ralo. Por conta da gravidez, a questão dos prazos da biblioteca foram sendo ultrapassadas (gravidas possuem alguns privilégios!), mesmo assim, eu não aguentava mais papo do tipo: “aqui o ponto final é depois dos parênteses, aqui o ponto final é antes”. E fui entrando no meu limite. Um desgaste físico, mental e emocional tremendo. A moça foi ajudando a arrumar para conseguirmos o cumprimento do prazo mais importante: depósito da tese no dia 14/11/12. E assim as coisas foram seguindo e eu fui perdendo o protagonismo diante da minha tese. Até que no “fim final”, quem colocou o ponto final na tese foi a moça da biblioteca, não foi eu. Me senti mal, impotente e frustrada, pois vi a tese se transformar em um objeto determinado por normas externas. Neste sentido, a tese deixou de ser vista como um produto decorrente de um processo que demandou tanto esforço e dedicação. A forma se sobrepôs ao conteúdo. Que racionalidade é essa? Essa racionalidade é tão irracional que transforma a banca em uma convecção. O momento crucial, no qual os convidados proporão ajustes (pontuais, espero!), os quais poderiam aprimorar o trabalho final, fica apenas para futuras publicações, não para o trabalho que estará nas bibliotecas, no site do Domínio Público. Por quê? Porque a tese já foi entregue, carimbada, vacinada e TRAVADA. Se a preocupação fosse com o conteúdo, o programa me daria um prazo para arrumar o material depois da defesa, mas a preocupação é com a ditadura dos órgãos que fiscalizam os programas de pós graduação, com o máximo de defesas em um ano, com a racionalidade irracional que determina o mundo acadêmico. Estou aqui escrevendo isso enquanto alguém tenta imprimir e encadernar a tese para ser entregue ainda hoje, 14/11/12. Hoje é o prazo máximo, pois a defesa será dia 17/12/12 sendo, portanto, essencial que os exemplares cheguem às mãos dos membros da banca o mais rápido (im)possível. Membros que merecem todo respeito pois foram solidários e toparam a realização de uma banca quase na véspera de Natal. Espero, sinceramente, que dê tudo certo, pois minha tese não é um objeto normativo, mas sim, um produto de corrente de um processo reflexivo, não o melhor do mundo, mas é a materialização do meu processo reflexivo. De qualquer forma, vamos lá, seguir enfrente, pois a defesa será ainda este ano e para mim, é isso que importa agora! .................................................................................................................................................Nota: não estou criticando a equipe da biblioteca (ao contrário, só tenho a agradecer, pois acabaram me ajudando muito), mas crítico o modelo em que os processos estão inseridos.

sábado, 20 de outubro de 2012

sou mamífera!

A gravidez é um evento humano totalmente simples, natural e, ao mesmo tempo, espetacular. A partir de um olhar coletivo, é normal que crianças nasçam. A partir de um olhar individual, particular, singular, a vinda de uma criança é algo revolucionário. Sempre acreditei que o amor materno poderia ser um mito construído social e historicamente. Agora vivo a maternidade, desde os enjoos, da primeira ultrassom, das dores na lombar, com a sensação do serzinho se mexendo pra lá e pra cá massageando meu útero (que até então é seu lar) e, principalmente, com a espera da chegada do meu filho. Essas sensações me fizeram repensar sobre o "mito do amor materno". Será que o amor materno é um mito mesmo? Será que estou naturalizando as coisas? Mas quando olho para maternidade, não só do "animal humano", mas em todos os animais, observo que o instinto é determinante. O que é o instinto? É natureza pura. Todas as fêmeas cuidam da sua cria, porque seria diferente com as fêmeas humanas? Sou mamífera. Estou gerando um mamífero. Descobrir-me como "mulher selvagem" foi muito importante, agora, descubro-me como "mamífera", isso é extraordinário. Obrigada João Pedro! Obrigada energia que move o mundo!

manhã de primavera

ESCRITO EM 07/10/2012 Esses dias tenho pensando muito na gravidez, no parto, no futuro... Entretanto dois eventos especiais trouxeram mais força para a reflexão: 1) infecção no nervo ciático com fortes dores; 2) consulta com uma nutricionista que tem ódio de gordo. Esses dois fatos vieram para me trazer medo e, ao mesmo tempo, força. Com relação as dores no nervo ciático, foi bem pesado, pois fiquei com dificuldade para andar e comecei a misturar as coisas: dor no nervo ciático com dores do parto. Entrei em parafuso, pois minha intenção é um parto normal... então ficava pensado: se agora dói tanto a lombar, como irei aguentar o parto. Depois, fui na nutricionista, pois já engordei muito e o encontro, que tinha tanta expectativa, foi uma catástrofe. Me senti humilhada, mal, feia, gorda, pois a moça só me colocou para baixo. Mas hoje, exatamente hoje, dia 07/10/2012, nesta manhã de primavera, pensei e repensei, coloquei estes problemas no âmbito do desafio... Olhei para minha barriga, minha "gordura" e vi que é a gordura que sempre sonhei (já engordei 9 quilos em outros momentos de minha vida, sem nenhum bebezinho dentro da barriga)... Com relação as dores no ciático, meu médico foi super atencioso, me medicou e depois da crise intensa, pude olhar para isso e confiar no médico para o parto. Para finalizar com chave de ouro, terminei de ler o livro "Parto com Amor" e tudo se encaixou... Quero ficar forte, bem forte, forte de verdade... Me manter saudável e lutar pelos meus sonhos e fazer com que o nosso filhinho amado, João Pedro, venha ao mundo da forma mais natural possível... E salve as manhãs de primavera!!!!

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

O samba do coração, 142 tuns tuns por minuto. Com pique, repique, rebola-bola. Com repinique, com surdo, cuica, percussão, tamborins, caixas, pandeiro, reco-reco, agogô, cavaquinho, apito e acenos de mãos. Samba no pé. Energia. Confete e serpentina. Brilhos cintilantes. O samba do coração. Soa com a alegria do próximo fevereiro. Soa com a alegria de anos festeiros. Soa com a alegria do mundo inteiro. Soa, soa tum-tum coração. (Dréa Rocha)

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Vida dentro da vida. Vida que pulsa cintilante, como uma estrela. Vida que tem som, como do vento. Essa vida dentro da vida, antes de tudo, já existia no coração. Agora agua, terra, ar, fogo, fazem a junção, elementos que alimentam a vida que alimenta. E a vida que cresce, agora alimenta a vida que a alimenta Essa vida dento da vida é um minúsculo furacão que veio do lado esquerdo e que já faz revolução. Dréa Rocha (28/06/2012)

terça-feira, 26 de junho de 2012

Pensei que quando a resposta fosse “sim” eu só teria esperança. Mas, o “sim” é bem diferente do "não". E, estranhamente, quando a resposta foi “sim”, senti muita alegria, mas junto desta alegria veio o medo. É estranho, um misto de alegria e medo. Medo de ser, mais uma vez, alarme falso. Medo de ser falso positivo. Medo de gritar para o mundo. Medo das reações alheias. Medo dos colegas de trabalho. Medo de atrapalhar o final da tese. Medo de perder. Medo de acontecer comigo como aconteceu com fulana ou bertana. Medo de receber notícia “ruim”. Medo de me empolgar demais. Medo de alguma coisa acontecer errada. Medo de problemas sérios futuros. Medo da falta de grana. Medo do dia de abrir as portas. Medo de ficar obesa. Medo de não conseguir mais dormir. Medo de acabar com o relacionamento. Medo. Medo. Medo. Tanto medo que a esperança foi ficando pequeninha. O sentido maior disso tudo foi se apagando. Se é uma espera, como esperar sem esperança? Como deixar a alegria contaminada com o medo? Então, agora que o impacto inicial do “sim” esta saindo de cena, estou retirando também o medo de foco e retomando as idealizações do passado. Se esperar é ter esperança, espero esperançosa e com alegria. Agora que seja misto de alegria e esperança. Somente isso.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

xícaras com resto de café e saquinhos de chá. livros espalhados. dúvidas no ar. relógio com tic-tac apressado. momentos de distração mais escassos. descobertas e (re)descobertas. saudade dos amigos. tecendo uma tese. (Dréa Rocha)

sexta-feira, 20 de abril de 2012

É o vermelho

É o vermelho que escapa das entranhas
É o vermelho que faz mulher
É o vermelho que está na rosa-amor
É o vermelho que embala as bandeiras que valem a pena
É o vermelho que está na fruta-desejo
É o vermelho que hipnotiza nas chamas multicores
É o vermelho que sensualiza o vestido
É o vermelho que encanta no sol do fim da tarde
É o vermelho que colore as unhas
É o vermelho que mancha bocas no picolé de groselha
É o vermelho que abre passagem para luz
É o vermelho que escorre as pernas
É o vermelho que faz-des-faz mulher


(Dréa Rocha)

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

As mãos dele já declaravam

As mãos dele já declaravam que é trabalhador. A mochila no colo, as mãos na mochila, os calos nas mãos. As mãos que tinham calos, também tinham restos de cimento, ou talvez de tinta, nos cantos das unhas. As mãos que estavam sobre a mochila seguravam, de forma meio desajeitada, um celular (daqueles relativamente modernos) os fones estavam nos ouvidos e uma das mãos segurava o microfone bem perto da boca. A conversa em tom baixinho foi ouvida. Ele dizia: “avisa aí que eu acho que vou ser mandado embora”. Prosseguiu dizendo: “o encarregado me deixou o dia inteiro sem fazer nada”. O medo da demissão deixava as mãos trêmulas, pois do outro lado alguém ficava preocupada. Então ele com a voz e as mãos trêmulas dizia: “fica calma que tudo vai dar certo, mas eu acho que vou ser mandado em embora”. Ficou triste. O choro estava na garganta. A tristeza não era percebida em meio de tantas outras mentes cansadas em um metrô lotado as cinco e meia da tarde em São Paulo. Se fosse percebida, a tristeza contagiaria a todos. Contagiaria a todos que também conversam baixinho, que tem as mãos com calos, que têm a mochila no colo e que tem o choro na garganta. A tristeza soava como uma tristeza coletiva. Uma tristeza como no “canto das três raças” do Paulo Cesar Pinheiro, cantado com toda alma da Clara Nunes, “ e de guerra em paz, de paz em guerra, todo o povo dessa terra quando pode cantar, canta de dor”. As mãos dele não negavam. Sim, é um trabalhador… É um trabalhador sentindo que perderá seu trabalho. As mãos dele declaravam, as mãos dele não negavam.

domingo, 1 de janeiro de 2012

2012 chegou!

2012 chegou! Chegou tranquilo, meio silencioso, meio opaco! Não chegou acompanhado dos fogos de artifícios barulhentos que colorem maravilhosamente o céu e nos deixam entorpecidos… Não chegou rodeado de pessoas vestidas de branco com calcinhas e cuecas coloridas. Não chegou ao som de carnaval. Não chegou com a mesa repleta de comida (muitas vezes excessiva comida). Não chegou com os pileques de antes. Não chegou com a sidra da infância. Não chegou com o vinho de agora. Não chegou a partir da voz rouca em contagem regressiva de um locutor de qualquer rádio FM. Não chegou com as imagens do “show da virada”, muito menos com a imagem dos fogos de Copacabana e da Paulista… Mas chegou! Chegou simples, silencioso, mesmo assim, com um pequeno estouro dentro da sala, que liberou confetes coloridos, serpentinas, estrelas brilhantes e coloridas (um bastão daqueles de formaturas, só para dar sorte!) e fogo aceso (velinhas para dar energia!). Uma camiseta branca velha. Alguns colares coloridos. Chegou com beijo quente (um pouco febril), com abraço apertado, com duas taças de suco de laranja e doze uvas dentro de cada. Chegou 2012! Seja bem vindo! E que este ano os beijos quentes aumentem (sem febre), os abraços apertados continuem constantes e, quem sabe, o silêncio e a tranquilidade sejam elementos cotidianos... A opacidade eu dispenso, quero um ano cheio de cores e alegria, como dos confetes, serpentinas e estrelas coloridas que se espalharam na sala depois de um pequeno estouro... É a dialética…