terça-feira, 30 de agosto de 2011

A moça, as sementes e o jardineiro

Uma moça, muito alegre e, ao mesmo tempo, séria (séria, pois levava a vida a serio), resolveu tentar fazer germinar algumas sementes. Não sabia o que nasceria das sementes, se seriam flores e frutos ou somente flores, mesmo assim estava certa que as flores iriam enfeitar sua vida, mais que isso, acreditava que as flores poderiam mudar o mundo. O interessante da história é que a moça herdou as sementes de sua mãe. As sementes estavam com ela desde o seu nascimento. A moça guardava as sementes com muito carinho. Mas é claro que com o caminhar da vida, acabava perdendo uma sementinha aqui, outra acolá... diziam para ela que a validade das sementes era muito longa, por isso, a moça foi fazer varias coisas, menos cultivar as sementes. Ela foi viajar o mundo em um balão colorido; ela foi ler todos os romances clássicos de Goethe, Saramago, Machado de Assis, Guimarães Rosa e alguns cordéis de Patativa do Assaré, sem contar com os poemas de Pablo Neruda. A moça quis conhecer pessoas no Nepal e caminhar pelas estradas da Iugoslava. Também quis sentir a brisa em Machu Pichu e o sol do Piauí. Andou de bicicleta em Amsterdam. A moça carregou bandeiras em passeatas e ajudou cuidar das pessoas que passam fome na Etiópia. A moça foi andando por aí. Vendia bolos saborosos e tortas recheadas para manter os gastos de suas andanças. As vezes fazia alguns colares com as sementes que herdou... tinha muitas sementes e elas eram lindas. De tão lindas, fazia colares para enfeitar ela mesma também. E assim foi seguindo sua vida admirável, sua admirável vida. Estava livre, sentia saudades dos seus, que ficaram em sua terra, mas continuava andando, com sua mochila pesada (as vezes achava que deveria exercitar o desprendimento, só para mochila ficar mais leve)... Na mochila havia lenços coloridos, sandálias, saias, calças largas, protetor solar, um tênis batido e, é claro que em um saquinho no bolsinho do canto, estavam guardadas as sementes. Um dia a moça leu em uma matéria de jornal de domingo que as sementes tinham validade sim, e se não platadas a tempo, poderiam morrer, não germinar ou não dar flores. Então a moça pensou: está na hora de plantar minhas sementes, depois de tudo que vi e vivi, acredito que meu jardim poderá colaborar para com a mudança do mundo. Mas a moça ainda não havia encontrado sua paragem. Estava zanzando por aí. E as sementes continuaram num saquinho... As vezes ela as perdia, as vezes enfeitava os colorares que vendia ou que lhes enfeitava. Além da falta do lugar, a moça sentia falta de um jardineiro bom, que lhe desse as coordenadas. Mas um dia a moça olhou e viu que a quantidade de sementes estava bem reduzida e algumas já não estavam com o aspecto tão vital. Viu que suas sementes não durariam para sempre.... Ficou preocupada, pois havia herdado as sementes de sua mãe e não poderia deixar que as sementes morressem com ela. Então resolveu pegar um balão colorido no sentido inverso do que voava até aquele momento. Voltou para sua terra. Voltou para seu chão. Sentia-se livre... Tudo que havia vivido foi elemento para que se sentisse livre, pronta para construir seu jardim, plantar suas sementes e esperar para ver como as flores iriam desabrochar. Mas ainda lhe faltava a técnica, a experiência de um bom jardineiro. Alguém que adubasse com ela a terra fofa. Alguém que regasse com ela as plantinhas, desde da hora que fossem um pontinho verde na terra. Ela desanimou um pouco. Encontrar um jardineiro de confiança não erá fácil. Achou que nunca iria encontrar o jardineiro que pudesse ajuda-la... Pensou que as sementes, junto dela morreriam. Até que um dia, caminhando por uma avenida longa e movimentada, cheia de carros e buzinas em alto tom, ela viu um homem vendendo flores na esquina. A imagem lhe seduziu, pois pensou: se ele vende flores nesta avenida movimentada e estressante pode ser que possa me ajudar... Aproximou-se do quiosque do homem. Ao chegar lá, sentiu cheiro de flores. Ao chegar mais perto, sentiu aromas que ainda não havia experimentado. Sentiu um bambear nas pernas. Sentiu uma vontade de voar. Sentiu uma vontade de parar alí, de viver para sempre... E, sentiu a confiança que buscava... Sentiu que o homem poderia ajuda-la a germinar as suas sementes.... Então ela perguntou: você sabe germinar sementes? Ele disse: sim, acho que as minhas plantações tem estado bem, mas minha especialidade é orquídea. Orquídeas de todos os tipos e cores. Já cuidei de muitas orquídeas lindas... Ela disse – eu não sei se o que tenho são sementes de orquídeas, mas as tenho desde que nasci, por isso procuro alguém que me ajude germiná-las e retirou as sementes do bolsinho do lado da mochila e as mostrou. Ele respondeu – que bom, não importa que planta seja, mas mesmo assim posso te ajudar. Então ela marcou um horário com ele em sua casa, combinou tudo. Na casinha com quintal que havia escolhido para se estabelecer, para plantar finalmente seu jardim. Ele foi, levou de presente para ela uma orquídea rara e lhe disse: essa é a sua orquídea e além das suas sementes, te ajudarei a cuidar da sua orquídea, pois adoro o aroma das orquídeas, adoro tocá-las e cuidá-las com carinho. Ele lhe deu todas as dicas para manter a orquídea vistosa e as sementes vivas. Ele continuou indo, ensinando, cuidando. As vezes ele aparecia com alguns espinhos presos em sua roupa, esses espinhos chegaram a machucar a moça, mas logo ele os tirava de seu macacão de jardineiro, outras vezes ela que os tirava. A moça também passou a cuidar dele, além de retirar os espinhos de sua roupa, fazia-lhe coisas que ele gostava e o animava a prosseguir em seus planos. Por outro lado, a moça também tinha seus grilos, havia visto e vivido tanta coisa e nem foi bom, então a moça tinha medo do jardineiro abandoná-la e ele foi lhe dando segurança dia a dia. No final das contas, ele cuidava da moça, a moça cuidava dele e ambos foram plantar as sementes. Ele a ajudou preparar a terra. Ensinou-a adubar. Ajudou-a colocar as sementes. Foi regando junto com ela. Até que um dia, depois de uma chuva prazerosa, que molhou todo o jardim, as sementes germinaram e brotaram algumas mudinhas. Os dois ficaram imensamente felizes com o feito e cuidaram com todo cuidado. Até que as plantinhas começaram a crescer. E a expectativa da moça e do jardineiro era de saber o que viria dali: será que virá uma árvore frutífera? Será que virá uma flor cheirosa? Será que virá um arbusto? E a moça viu que valia a pena ter guardado suas sementes e, principalmente, ter batalhado para germiná-las. E quando a planta enfim tomou forma, viram que era um pezinho de amora. Que, com muito amor, daria muitas amoras. A moça viu, enfim, que o seu jardim repleto de amoras, se não mudasse o mundo, mudaria a vida dela, mudaria a vida dele. As amoras exigiriam todo cuidado. As amoras cresceriam e mudariam o mudo sim,
pois se mudariam o mundo deles, que já não conseguiam se separar, estavam mudando o mundo. O jardim ficou lindo e florido, pois o jardineiro plantou outras flores e frutas, e a moça cuidou com carinho de todas as flores, plantas, arbustos e da sua orquídea, que continuou impecável, viva, cheirosa, agradando o jardineiro. No mais, as amoras eram amorosas. As amoras tinha aroma suave. As amoras eram felizes. As amoras eram amadas. As amoras pintavam roupas e bocas. As amoras trouxeram bênçãos para a moça e para o jardineiro. Que bom que ela guardou as suas sementes! Que bom que ele adubou as sementes!



sábado, 27 de agosto de 2011

putz...

putz.. agora que vi que a ultima babozeira que escrevei aqui foi em abril...
há tempos quero escrever, mas são tantas as (des)culpas ou mesmo justificativas, que não vale a pena aparecer aqui... acho que voltarei ao exercício de colocar na tela minhas piras...

pintei minhas unhas de vermelho

Quinta-feira eu pintei minhas unhas de vermelho, mesmo assim continuei angustiada... triste... com um buraco no peito. As vezes penso que eu não tenho mais jeito, que sou louca e ponto final. Outras vezes penso que são só momentos. Momentos de loucura, de angustia, de felicidade, de insatisfação. Não sei qual das duas opções é a mais real, ou se as duas são reais, mas sei que em minha cabeça há um turbilhão de coisas. A tristeza em meio de tantos motivos para só ter alegria. Pareço criança chorona. Acho que um dia essa intensidade me levará para o buraco. Literalmente para o buraco. Tenho medo. Tenho medo da minha intensidade e de tudo que passa por minha cabeça. Tenho medo, pois mesmo nos momentos de angustia, estou certa que só tenho o que comemorar. Tenho saúde, realização profissional, família, amigos e amor... Esta sanidade em meio da loucura é o que mais enlouquece. Pintei minhas unhas de vermelho, mas isso não é novidade, pois sempre pinto as unhas de vermelho.