sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Defesa do turismo sexual as 9h da manhã?

abaixo, segue texto que eu mandaria para a produção do Programa Mais Você da Rede globo, porém no local disponível para comunição só é permitido postar 90 caracteres... absurdo... como havia escrito, revolvi postar aqui.


Fiquei altamente revoltada com a letra da música que o jovem “Branquinho” (acho que é isso) acabou de cantar. Como pode, um jovem estrangeiro, que, aparentemente, só mora na favela por achar a pobreza “bonita”, reduzir o Brasil a cachaça e mulata? Dizer em meio das frases “hoje tive muito tesão”. Sim, o rapaz é muito simpático, mas não dá para aceitar o que ele cantou. Mulata, cachaça. Nas entrelinhas o que li: terra da liberação sexual, do alcoolismo, da diversão. Absurdamente, o que vi foi uma propaganda do turismo sexual. Fiquei perplexa. Já não basta o olhar que os homens do mundo todo têm para com as mulheres brasileiras. Onde chegamos eles dizem: sabe sambar? Para que reforçar isso? Sou mulher, jovem, brasileira e me senti muito ofendida com a música do rapaz. Muito mais ofendida com o fato de um programa que tem um grande publico feminino ressaltar o turismo sexual da forma que foi feito. O Brasil, o Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, “Tiririca da Serra” e todos os rincões deste país, têm sim muita cachaça e mulata maravilhosa, mas somos MAIS que isso. Será que não está na hora de combatermos o turismo que sexual?

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Que o movimento dialético da vida nade, corra, dance, mas que seja comigo!

Hoje acordei com uma sensação de que estou nadando, nadando, nadando e ainda corro o risco de morrer na praia. Ou que estou correndo, correndo, correndo e corro o risco de desmaiar pertinho da linha de chegada. Sim, a vida é dialética... Já estava acostumada com seu movimento na direção contrária dos meus planos pessoais, mas há alguns meses, estava me acostumando com o movimento em minha direção. Uma frase que tenho ouvido muito: é fácil se acostumar com coisa boa! E é verdade!!! Sentir a dialética da vida movimentando-se em minha direção, ou correndo comigo, ou, melhor ainda, nadando comigo, estava bom demais! Trazia-me tranquilidade. Retirava-me o medo do futuro. Permitia-me ter paciência. Sensações que nunca havia vivido, especialmente, com relação a um aspecto particular de minha história. Tinha a sensação real de que não morreria na praia e não desmaiaria perto da linha de chegada. Sentia-me segura, era isso... Simples e profundamente isso: sentia-me segura! Agora, a vida resolve querer dançar sozinha. Dançar por conta dela. E me chacoalhar, deixando-me perdida novamente. Meio tonta. Com a cabeça girando, a ponto de quase desmaiar. Inerte, com medo do futuro. A vida não quer mais nadar comigo, nem me incentivar na corrida. Agora tenho medo do rio não dar pé... Tenho medo de não aguentar a próxima ladeira da corrida. Queria mesmo é que o movimento da vida continuasse comigo. Queria que a vida me convidasse para dançar com ela, não fosse dançar sozinha e me chacoalhasse sem ritmo. Vida, enjoou de nadar e correr? Agora quer dançar? Quero dançar com você... Não dance sem mim... Espere que eu nade até a praia. Espere que eu corra até a linha de chegada. Aí a gente muda o verbo. A gente escolhe o tom. A gente dança o ritmo que você quiser. Não sou muito boa em danças, mas gosto de movimentar o corpo ao som da música. Eu gosto, vida! Gosto de dançar. Então me convide... Fique comigo, com seu movimento dialético. Mas mantenha seu movimento em minha direção. Ficarei no aguardo de sua decisão... Que o movimento dialético da vida nade, corra, dance! Só quero que seja comigo...

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

O pássaro protegendo o ninho, a criança que não sei o nome e um pai sem proteção




Havia um pássaro protegendo o ninho ao lado da cova de uma criança que não sei o nome. No ninho um ovo, dentro do ovo, um pássaro por vir. Na cova uma criança que veio e antes mesmo de completar um ano de idade se foi. A criança passou por aqui. O pássaro cuidando um pássaro que ainda estava por vir. A criança muito menos protegida que o ninho do pássaro. Falta de proteção não era de pai e mãe. Falta de proteção do Estado, da dignidade, da saúde, das cores que deveriam colorir a vida de uma criança. Falta de proteção que o pai e a mãe também estavam submetidos. Da criança eu não sei o nome, mas de seu pai, lembro nome e sobrenome. Ao pai também faltou proteção. Ao pai também faltou as cores da infância. Ao pai veio, desde pequenino, violência. Ausência daquela proteção que faltou para filha. Falta de proteção do Estado, da dignidade, da saúde, das cores que deveriam colorir a vida de uma criança. Um pai sem proteção. Uma filha sem proteção. Ao pai, que foi afastado dos pais, restou a criação aos moldes nú e crú dos “meninos de criação”. Cresceu meio largado em uma favela de São Paulo. Cresceu meio sem carinho. Cresceu meio assustado. Cresceu meio revoltado. Infância sem cores. Inicio da adolescência colorida pela violência, pelo tráfico e pelas drogas. Colorida pela vida louca que é muito mais bicolor que colorida. O menino arrasou. Na adolescência ele ganha proteção da FEBEM. Proteção da FEBEM? Sim, proteção da FEBEM abaixo de cadeados, grades, portas de ferro batendo e um pouco mais de violência. Proteção tamanha, que o levava cotidianamente a maquinar revoltas, rebeliões. Queria a todo custo arrancar do nada o que nada teve. O adolescente, líder de revoltas, foi para uma cidade tranquila. Foi com fama de “bom menino” ganhar proteção em outra instituição, pois a FEBEM não dava mais conta dele. A proteção agora vinha da alienação religiosa. A proteção vinha da necessidade de se moldar e fingir ser quem não era. A proteção vinha como recompensa de uma conversão enfiada goela abaixo. Aprendeu a tocar bateria. Gostava de tocar bateria. Escreveu algumas poesias. Gostava de escrever poesias. Ensinou acadêmicos que nada sabiam da vida. A falta de proteção fez com que ele se tornasse um sábio arracado da violência. A falta de proteção mostrou o quanto sua luz foi sufocada. Um pouquinho pôde brilhar. Só um pouquinho. Mas estava sendo obrigado a ser o que não era. Portanto, o prazo de validade foi curto. Saiu do cantinho protegido pela metafísica e não tinha para onde voltar. Ficou naquela cidade, acreditando que se manter afastado da favela onde cresceu estaria um pouco mais protegido do mundo e de si mesmo. Porém, foi buscar proteção em uma favela daquela cidade. Lá arrumou um barraco. Lá arrumou uma companheira. Lá arrumou uma filha. Amava a filha e as irmãs da filha. Desempregado, na luta pela sobrevivência, assumiu a responsabilidade de proteger três crianças. Estavam sob sua proteção sua filha e as duas irmãs dela, enquanto a mãe das três trabalhava em alguma casa de classe média da cidade. Um dia a vida arrancou a proteção que nunca existiu. Foi ele tomar banho e a irmã de sua filha a derrubou no vão da cama. Ao ouvir os choros foi protegê-la. Chamou socorro. O resgate veio, levou a criança que estava com o braço machucado. A criança voltou. E ele, tentando protegê-la. Uma semana se passou. E, de repente viu que a criança estava ofegante, com respiração fraca. Chamou socorro. O resgate veio, levou a criança. A criança morreu. Morreu em decorrência de uma fratura craniana. Manchete de jornal: pai mata a própria filha por agressão. Quem acreditaria nele? Quem acreditaria que desta vez ele estava tentando proteger? Gritou aos quatro cantos: eu não matei minha filha. Mas ninguém ouviu. Foi preso. Tinha tatuagem. Havia passado preciosos anos de sua adolescência na FEBEM. Era negro. Era jovem. Era pobre. Era favelado. Quem vai acreditar que ele não matou a filha? Semanas depois, foi constatado: erro médico. A criança, que caiu uma única vez, além de ter machucado o braço, fraturou o crânio. Ela foi ser protegida em um hospital e não fizeram a ressonância magnética... A criança sem proteção. O pai sem proteção. O pai sem nova manchete: erramos, não foi o pai que matou a filha, foi o Estado. Sem essa manchete. Mas lá, ao lado da cova da criança que não sei o nome, havia um pássaro protegendo o ninho. O pássaro livre, fazendo ninho no cemitério, mas livre. O pai da criança colocou tudo a perder. Lá na favela, que não era a favela que cresceu, encontrou o que fazer. Envolveu-se com o crime. Envolveu-se até ganhar outra forma de proteção: a cadeia. Diferente do pássaro que protegia o ninho e era livre, o pai foi para cadeia. Não por ter matado a filha, mas por ter se matado um pouco por dia. Na cadeia seguia... Um dia, pôde sair para passar feriado na rua. Para onde ele iria? Ele não tinha nem visita. Ele que não tinha ninguém. Ele que nunca teve ninguém, somente a filha que se foi antes de um ano. Ele foi para a favela. De lá, ele foi para uma casa de classe média (aos moldes da casa que a mãe da menina trabalhava) e lá ele viu uma empregada (aos moldes da mãe da menina) e a colocou para dentro da casa com uma faca. A família estava lá. Era semana de feriado. E ele, o pai da menina que se foi, amarrou todos. O pai da menina pegou o revólver do cofre e o carro da família. O pai da menina chegou na favela dirigindo. O pai da menina foi morto. Para onde ele iria? Ele iria para uma cova rasa, como a cova rasa da sua filha. Ele iria ser enterrado sem família chorando. Sem a filhinha ao lado. Sem mãe. Sem pai. Sem mãe adotiva. Sem proteção. Sem a proteção que o pássaro dava para o ninho. Ele foi da mesma forma que a filha foi. Mas ele foi de forma assustadora. Ele foi com um suspiro de alívio da sociedade: um bandido a menos. Ele foi. Ele foi sem proteção durante os seus 24 anos de história. A filha foi. Ele foi. E o pássaro protege seu ninho. E o nome da menina, eu não sei.


poesia do pai:

Uma vida em branco

O que é bom a você
Não é bom para mim
Aquilo que é real aso seus olhos
Passa por um engano aos meus

O que é meu,
por mais que você não queira é seu.
Mas o que é seu, porque não pode ser meu?
O que traz alegria ao seu sorriso
Traz infelicidade e gotas de lágrimas,
desprezo ao meu coração e ousadia ao meu olhar.

Se o que te faz lembrar delaquando está triste,
Só me vejo no espelho quando estou feliz
Contudo continuo em dúvidas
Será que é isso?

Davi Rocha
28/01/200



PS: História real. O sobrenome ser igual ao meu, mera coincidência.