terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

"O Solista": lindo filme!





Sou uma carnavalesca de quinta categoria. Mesmo me emocionando ao ouvir os tamborins, surdos, reco-reco, cuíca, achar lindas as marchinhas, amar o frevo, encantar-me com o som do maracatu e as cores do carnaval encherem meus olhos, não consigo mover uma palha em direção a isso tudo. Ontem até dei uma curtidinha de leve em um momento da programação carnavalesca da cidade, muito bem acompanhada, por sinal! Mas, como bem canta Vinicius “A felicidade do pobre parece a grande ilusão do carnaval. A gente trabalha o ano inteiro. Por um momento de sonho. Pra fazer a fantasia de rei ou de pirata ou jardineira. Pra tudo se acabar na quarta-feira. Tristeza não tem fim. Felicidade sim”...Amanhã é quarta-feira de cinzas! E, como o Brasil para (presente do verbo parar!!) no carnaval, é possível aproveitar o “tempo livre”. Eu, como mostrei no texto abaixo, realizei a mudança do apartamento. Mas hoje, como uma carnavalesca de quinta, além de ler Caio Prado Junior e ter um almoço muito agradável na casa de uma amiga, fiz algo muito bom: fui ao cinema. Há tempos quero comentar sobre a mística que envolve o cinema da UEL, que funciona no shopping Com-tour. O cine da UEL me relaxa... Me traz uma sensação de profunda liberdade. Falei de mística, pois há um clima que se repete... Sempre deixam boas músicas tocando (hoje tocava Chico Buarque). Primeiro acendem todas as luzes coloridas das paredes ao lado. E quando o filme está para iniciar, apagam as duas primeiras fileiras de luzes coloridas, mantendo uma e, enfim, quando o filme inicia, apagam todas as luzes. É como se estivessem abrindo uma cortina (amo o cine Com-tour! Amo a proposta cultural da UEL. Penso que a comunidade londrinense deveria aproveitar mais). Ao ir no cinema hoje ganhei um grande presente: o filme “O Solista”. E é sobre o filme que quero falar aqui. Já havia lido a sinopse no site da UEL... esperava bastante do filme. Esperava um drama que discute a existência. O “sentido”. Que faz chorar e pensar na vida. Mas o filme é muito mais que isso. Mostra o Estados Unidos real. A crise. A pobreza que afeta aquela população. Os desempregados em situação de rua. A criminalização da pobreza. O plano de tolerância zero (tão criticado por estudiosos da violência urbana, que têm uma postura progressista, à exemplo de Loic Wacquant). O caos da saúde pública dos EUA. As marcas deixadas pelo racismo. A violência. As drogas. Aponta como é tênue a linha que divide a sanidade da insanidade mental. Faz pensar sobre medicamentos prescritos para os transtornos mentais (lembrei-me que no ano passado estava a beira da loucura - ou dentro dela- , então recebi de um amigo, coincidentemente, um videozinho do Foucault, falando do papel da psiquiatria. Então disse ao meu amigo: “depois de assistir o vídeo resolvi esperar mais um pouco para procurar o psiquiatra e voltar a tomar bola”. E o amigo respondeu-me: “se você não procurar o psiquiatra hoje, ganhei meu dia”) Sim o papel da psiquiatria e dos remédios que acompanham deve ser repensando. “O Solista”, mostra de forma muito profunda, como “as vozes” atormentam. E, como a música, a criatividade, a arte libertam. Como a amizade verdadeira transforma. Até então parecia que o jornalista, da classe média americana, num tempo de “vacas magras”, pouca criatividade e muita cobrança, encontrou um mote. E foi isso mesmo. O jornalista Steves Lopez (vivido por um ator lindo!!!!), aproveita a história de Nathaniel Anthony Ayers para renovar seu trabalho... Mas a história se transforma em HISTÓRIA. Como também escrevi no post abaixo: o novo traz mudanças. E a relação se transforma. Quando o jornalista anda pelas ruas da “boca do lixo” de Los Angeles, chega na vida real. Quando pisa no “albergue” para sem teto, conhece figuras e histórias marcantes. Conhece a realidade, que até então não tinha visto com profundidade. E quando parece que o jornalista esta ajudando um “louco talento” perdido nas ruas. O “louco talento” quem o ajuda. O jornalista, re-pensa sua vida. O solista, re-acredita na vida. O jornalista reencontra-se no trabalho. O solista reencontra-se com o violão cello. O jornalista quer tirar o solista das ruas. O solista só quer tocar violão cello embaixo de um viaduto. O jornalista tenta resolver seu passado. O solista tenta viver o presente. E assim, as vidas se marcam. Transformam-se. Enquanto Steves Lopez retoma a criatividade que revoluciona, Nathaniel Anthony Ayers – N-A-T-H-A-N-I-E-L A-N-T-H-H-O-N-Y A-Y-E-R-S (quem assistir o filme saberá por que escrevo este nome soletrando-o!!!), volta a tocar violão cello. O filme mostra como a loucura está em todos. Somos loucos, um pouco mais ou um pouco menos, mas somos loucos. Mostra como a loucura não é tão louca como pensamos. E assim, segue uma história real, contada com muita sensibilidade e beleza. Com closes fechados nos rostos, nos olhares, nas lágrimas, nos sorrisos. Lindo filme. Lindo... E viva Ludwig van Beethoven!






http://www.osolista.com.br

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